Em pleno século XXI, são ainda muitos
os mitos, tabus e preconceitos em torno da sexualidade do cidadão com
incapacidade mental ou motor, sendo uma realidade que, para a grande maioria da
população, sexualidade e deficiência parecem inconciliáveis.
Em torno desta problemática, no
passado dia 27 de janeiro, a Provedoria Municipal das Pessoas com Incapacidade
da Lousã reuniu um painel especializado que, perante uma assistência que
praticamente esgotou o auditório da Biblioteca Municipal Comendador Montenegro,
debateu e identificou as principais barreiras e questões associadas a uma
realidade que não poderá continuar a ser colocada de parte.
Este painel de oradores reuniu especialistas
como Cristina Siva - psicóloga na Associação de Recuperação de Cidadãos com
Incapacidade da Lousã (ARCIL), Ernesto Carvalhinho - antigo presidente da ARCIL
e antecessor de João Henriques na PMPIL, Jorge Cardoso - psicólogo clínico e
docente universitário – e Figueiredo Fernandes, clínico geral da Unidade de
Saúde Familiar Serra da Lousã.
A sobrevalorização da deficiência na
sua vertente mais visível e a centralização da discussão sobre os aspetos
técnicos de fertilidade em detrimento da afetividade são, segundo estes
especialistas, basilares ao padrão atualmente adotado, sendo fundamental olhar
para as pessoas com incapacidade física e/ou mental com equilíbrio e igualdade.
Numa opinião também partilhada por
Ernesto Carvalhinho e Rui Ramos, atual presidente da ARCIL, Cristina Silva
realçou o papel da atuação desta instituição nesta área como promotor de uma
grande e rápida mudança da aceitação social a nível concelhio. Poderá ainda
referir-se o seu pioneirismo, tendo sido a primeira instituição a expressar o
direito à sexualidade na sua carta de direitos.
Autonomia
para a inclusão
A alteração das preconceções
associadas à incapacidade e a desmistificação da sexualidade serão, porventura,
indissociáveis, pelo que o testemunho frontal de quem convive diariamente com
esta problemática assume uma grande relevância para a sensibilização da
comunidade.
Neste
espírito, João Henriques e Manuel Miranda, pai de um jovem com deficiência
mental profunda, partilharam com os presentes as suas experiências e preocupações,
trazendo para a discussão uma perspetiva fora do alcance dos demais
intervenientes. Esta foi também uma oportunidade para o lançamento do trabalho
literário intitulado «Autonomia para a inclusão», uma obra da autoria de Manuel
Miranda que resulta de uma aprofundada pesquisa sobre a evolução histórica da
deficiência a nível mundial e fornece uma análise rigorosa das necessidades de
resposta relativas à integração e inclusão.
Como resultado deste debate, poderá
aferir-se uma necessidade de alteração de paradigma, urgindo criar uma maior
abertura social e institucional quanto às práticas atualmente seguidas no que
diz respeito à sexualidade e afetuosidade na deficiência. || Tatiana Ribeiro
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