José
Leonardo, professor de Física e Química na Escola Secundária da Lousã, acredita
que o seu exemplo pode inspirar os seus alunos. Está em cadeira de rodas há
mais de dez anos e nunca parou de dar aulas. “Se eu consigo, eles também podem
conseguir”, diz
Uma vez que toda a
Escola Secundária com 3.º Ciclo é acessível, com exceção feita à biblioteca, a
única dificuldade que sente é na preparação das aulas práticas nos
laboratórios. Tem de pedir ajuda, algumas vezes, a algum colega para organizar
essas aulas. De resto, o quotidiano decorre com normalidade. E isso deve-se a
um fator, que identifica facilmente. “A escola é acessível, não só nos aspetos
arquitetónicos, mas também nos aspetos humanos. Não noto que haja preconceito,
os alunos, os funcionários, os professores já estão habituados a terem alunos,
professores e funcionários também com deficiência. As pessoas não são olhadas
de forma diferente e julgo que essa é a grande vantagem da escola”, referiu ao Trevim, a 3 de dezembro, dia em que foi
chamado a colaborar nas comemorações do Dia
Internacional da Pessoa com Deficiência, em representação da Provedoria
Municipal das Pessoas com Incapacidade da Lousã.
Não
foi o único. Outras pessoas portadoras de deficiência e bem sucedidas
profissionalmente deram o seu testemunho: Rui Matos, professor de economia
naquele estabelecimento de ensino, José Moreira, massagista auxiliar na ARCIL,
e ainda Paulo Marques e Sandra Lopes, Técnico Oficial de Contas e massagista na
Associação de Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo,
respetivamente. Lourdes Fonseca, professora de educação especial e organizadora
das comemorações, salienta o objetivo do evento. “Nós fazemos disto um dia
especial. Não é uma comemoração do que quer que seja, é mais para estarmos
juntos, para que os miúdos vejam que outras pessoas com deficiência também
conseguem chegar a algum lado. Partilhar essa experiência é para nós a coisa
mais importante”.
Esta comemoração contou com a participação dos
colaboradores convidados, parceiros sociais, pais e encarregados de educação,
Agrupamento de Escolas e Escola Secundária da Lousã.
Alunos
simulam cegueira
na sala de
aula
No dia 3, alguns alunos exprimiram o que sentiram quando
experimentaram trabalhar, nas aulas de Tecnologias de Informação e Comunicação,
com uma venda nos olhos. Além de não conseguirem encontrar o botão para ligar o
computador, não conheciam o teclado. Por
outro lado, no quadro escreveram tudo torto, pensando estar direito.
“sentiram-se cegos”, descreve a professora Lourdes Fonseca. Neste contexto,
José Moreira, cego desde criança, explicou que o cérebro se vai habituando e
adaptando ao longo dos anos às atividades que a pessoa precisa de desempenhar.No
seu caso, tem a vida facilitada porque tem um cão guia – que vai ser
substituído em breve porque precisa de “reforma” - e o apoio da família.
Legislação
por
aplicar
Passados
20 anos da instituição do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, há
direitos que ainda estão por salvaguardar. “Em termos de legislação, temos uma
legislação adequada e perfeitamente moderna no que diz respeito aos direitos
das pessoas com deficiência. Falta pôr na prática essa legislação. Continuamos
a ter instituições públicas que não são acessíveis quando a lei já prevê.
Continuamos a ter situações de órgãos públicos em que a comunicação não é feita
de forma adequada para pessoas com deficiência auditiva ou visual poderem ter
acesso à mesma comunicação”, salienta José Leonardo. “Apesar de a lei prever,
ainda temos prédios que são construídos sem a mínima acessibilidade quando ela
está prevista na própria lei que prevê que, pelo menos, deveriam ter
acessibilidade à entrada”.
Fonte: Jornal Trevim Maria João Borges