Thursday, January 25, 2007

Lousã - Provedoria dos deficientes tem novas instalações

Num rés–do–chão, situado mesmo no centro da vila, abriu anteontem a Provedoria Municipal das Pessoas com Deficiência.

Foram inauguradas na Lousã, no passado sábado, as instalações da Provedoria Municipal das Pessoas com Deficiência. A partir de agora, o provedor desta área, José Ernesto Carvalhinho, vai reforçar o trabalho iniciado há cerca de dois anos, com uma equipa de outras três pessoas, no sentido de elaborar o diagnóstico das principais dificuldades que, no concelho, se colocam às pessoas com deficiência, bem como assessoria e aconselhamento em novos projectos. As acessibilidades e barreiras arquitectónicas são os principais problemas com que se deparam as pessoas com mobilidade reduzida e deficiência visual. João Henriques, tetraplégico há 21 anos na sequência de um acidente de automóvel, é um dos elementos que vai trabalhar na provedoria recentemente criada.

Considerado, desde há uma década, como um dos activistas mais empenhados nesta causa - tendo criado o site www.euroacessibilidade.com - têm–se esforçado por sensibilizar, não só as autoridades competentes nesta área, como também projectistas, engenheiros, arquitectos e promotores imobiliários, no sentido de que o desenvolvimento urbanístico se faça a pensar em todos os cidadãos.

Anteontem, durante uma acção de sensibilização que decorreu na vila - a propósito do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência - o presidente da câmara da Lousã, Fernando Carvalho, explicou que a atenção que esta autarquia atribui à problemática da deficiência "não é pura e simplesmente imagem, é uma preocupação em termos de actuação". Neste âmbito, o autarca realçou a presença de sete técnicos da autarquia na jornada de sensibilização, "seis deles da área da intervenção urbana". Fernando Carvalho reconheceu, por outro lado, que neste sector o concelho da Lousã "seria diferente, para pior", se não existisse, há três décadas, uma instituição como a ARCIL - Associação para a Recuperação dos Cidadãos Inadaptados da Lousã.João Henriques é um homem que cresceu em paralelo com a instituição, reconhecendo que "a Lousã é um caso excepcional, onde se tem tentado criar um espírito de cidania e onde existe consciência social".Todavia, afirma que "ainda há um esforço a fazer na desburocratização dos processos e acesso aos gabinetes dos engenheiros e políticos".
Cidades para todos.
A principal intervenção do dia coube a Carlos Pereira, arquitecto, deficiente da guerra colonial e membro do Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência. A tónica da sua intervenção incidiu sobre a generalização do chamado "design universal" ou "desenho para todos", aplicado às infra–estruturas, equipamentos, máquinas e produtos, de forma a que possam ser utilizados por todos, cumprindo sete requisitos pré-definidos.

Aproveitando a oportunidade, a ARCIL promoveu uma acção de sensibilização onde pessoas sem limitações motoras puderam constatar as dificuldades de mobilidade numa cadeira de rodas. Em duas rampas, construídas para o efeito, foi fácil constatar que uma inclinação superior a seis de cento torna–se, não só muito difícil de transpor, como também factor de insegurança, perante o risco de queda.

Provedoria Municipal das Pessoas com Deficiência inaugura novas instalações

Descrição da foto: seminário sobre acessibilidade

Dois anos depois de ter sido criada pela Câmara Municipal da Lousã, sendo actualmente a segunda do país e a única na região centro, a Provedoria Municipal das Pessoas com Deficiência tem finalmente casa própria.

As instalações foram inauguradas no último sábado, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Instalada na Praça Cândido dos Reis, bem no centro da vila da Lousã, entidades envolvidas, cidadãos portadores de deficiência e comunidade em geral esperam que o novo espaço seja sobretudo um ponto de encontro de vontades e de mudança de mentalidades, criando uma consciência mais atenta à questão das acessibilidades para as pessoas com deficiências.

Barreiras arquitectónicas, falta de acessibilidades ou concepção de edifícios e infraestruturas inadequadas são apenas (mais) algumas das dificuldades que, diariamente, muitos cidadãos com limitações têm de enfrentar.

Na inauguração do novo espaço, junto ao sector de Acção Social da Câmara, Fernando Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Lousã, sublinhou o papel determinante da Associação para a Recuperação do Cidadão Inadaptado da Lousã (ARCIL), considerando que "este concelho seria bastante diferente para pior" se não existisse no concelho esta associação.

Igualmente reconhecido foi a persistência e a contribuição de João Henriques, um jovem lousanense que aos 21 anos ficou tetraplégico na sequência de um acidente rodoviário e que tem vindo a alertar ao longo dos tempos para as questões da acessibilidade. A rubrica "Lousã Acessível" publicada no semanário Trevim e o sítio www.euroacessibilidade.com - por si criado - são apenas dois exemplos das formas utilizadas para alertar a população e as entidades competentes para o muito que há a fazer nesta área.
E o facto é que, apesar do esforço de todos, há ainda muito a fazer. "Espero que agora que foi inaugurado este espaço seja possível encaminhar mais facilmente os problemas para quem tem a responsabilidade de os resolver e que tudo isto não fique apenas no existencialismo, sem acção efectiva", declarou João Henriques ao Trevim.

Equipa com conhecimento de causa

A Provedoria Municipal das Pessoas com Deficiência da Lousã funcionará de forma permanente contando com uma técnica superior disponibilizada pela Câmara Municipal e um grupo de consultoria que conta com a experiência em primeira mão de João Henriques e outros cidadãos portadores de deficiência.

Este grupo de trabalho terá como grande objectivo aconselhar a autarquia e os projectistas na área das acessibilidades, contribuindo para aproximar quem constrói a quem utiliza.

"A Provedoria não é apenas uma questão de imagem mas sim uma preocupação efectiva com a população", declarou Fernando Carvalho, reiterando o voto de confiança em Ernesto Carvalhinho, que o edil considera ser "a pessoa ideal para o trabalho, dada a sua longa experiência nesta área".

Depois de mais de uma década ao ligada à ARCIL, associação que chegou a presidir, José Ernesto Carvalhinho, professor de 53 anos, ocupa o cargo de provedor da Provedoria Municipal das Pessoas com Deficiência da Lousã.

"Quando as pessoas olham para um objectivo comum e não para si próprios conseguem-se fazer coisas válidas", afirmou o provedor que, em conjunto com a restante equipa, pretende sobretudo fornecer aconselhamento de novos projectos para evitar erros em termos de acessibilidades; permitir a correcção de alguns erros que hoje existem e, através de um atendimento personalizado, tentar resolver os problemas apontados pelos cidadãos.

O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência foi também assinalado na Lousã com acções de sensibilização e para as dificuldades que as barreiras arquitectónicas causam diariamente aos cidadãos portadores de deficiência.

Assim, para além da intervenção do arquitecto Carlos Pereira, deficiente da guerra colonial e membro do Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência sobre o conceito do "design universal", ou seja, o desenho e a concepção dos mais diversos produtos e infra-estruturas por forma a permitir a sua fácil utilização por todos.

Durante a tarde, numa acção promovida pela ARCIL, jornalistas, autarcas e técnicos tiveram a oportunidade de constatar - utilizando uma cadeira de rodas - as muitas dificuldades levantadas pelas barreiras arquitectónicas.
No Cine-Teatro da Lousã, as comemorações do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência foram encerradas com a actuação da Orquestra Clássica de Coimbra e do grupo 5.ª Punkada.


Fote: Jornal Trevim / 09 Dezembro 2005