Cegos com mais estratégias de luta
A Lousã acolheu o primeiro encontro da Comissão de Jovens da ACAPO (Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal) de 22 a 24 de Fevereiro. Os 10 jovens participantes das delegações de Porto, Braga, Viseu, Lisboa, Açores, Algarve, Castelo Branco, Leiria, Coimbra e Aveiro saíram mais fortalecidos e com outras armas para enfrentarem uma sociedade ainda preconceituosa.
Das várias reflexões e reuniões que tiveram lugar, os jovens comprometeram-se a promover algumas iniciativas locais e nacionais, a fim de ser elaborado um documento, em que constem todas as suas preocupações. A ideia é enviar o papel a governantes e instituições, para que passem a conhecer melhor os problemas que os cegos enfrentam no seu quotidiano. "Desisto de desistir" foi o slogan dado a esta campanha, que começou com o encontro na Lousã, em que os jovens tiveram também a possibilidade de fazer experiências novas e de travar conhecimentos entre si. Instalados na Pousada da Juventude, os participantes percorreram o trajecto "Caminho do Xisto Acessível", na aldeia do Gondramaz, montaram a cavalo na Quinta da Paiva (Miranda do Corvo), provaram chá e mel na Casa de Chá Solar do Adro, na Lousã, vila onde conheceram vários monumentos e o Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques. Na aldeia do Candal, participaram num workshop de olaria, orientado por um técnico da ARCILcerâmica. "Espero que estas iniciativas se repitam, porque a maior parte das pessoas cegas não tem a possibilidade de sair das suas terras", referiu-nos Ana Cristina, de 20 anos, vinda de Vale de Cambra.
Exemplos de sucesso
A vida destes jovens tem sido cheia de dificuldades. Madalena Ribeiro, 23 anos, cega de nascença, sentiu desde pequena problemas em arranjar material escolar adequado à sua deficiência. "A relação com os professores também não tem sido fácil", disse-nos, com um sorriso nos lábios, porque, apesar de tudo, tem conseguido contornar os problemas. "Têm sido 23 anos de luta", refere a jovem, com um desempenho escolar invejável. Está a terminar um mestrado em Tradução Especializada em Inglês e Alemão, encontrando-se a realizar um estágio numa empresa, no âmbito do qual traduz para português softwares de informática e manuais de instruções. Pretende prosseguir os estudos e contribuir para a mudança de mentalidades. "Não quero que crianças com o meu problema sofram metade daquilo que passei", acrescentou, salientando ter sentido muita falta de apoio, vendo-se obrigada a ultrapassar sozinha as dificuldades. O próximo obstáculo da sua vida é mesmo encontrar um trabalho. Já foi a algumas entrevistas de emprego, mas todas tiveram o mesmo resultado: "Como é cega, já sabe como é que é"..., contou.
Sofia Antunes pode ser considerada como o exemplo de como uma pessoa cega pode realizar com sucesso o seu trabalho como qualquer outra. Embora não exercendo advocacia, trabalha no departamento jurídico da Câmara Municipal de Lisboa e afirmou nunca se ter sentido discriminada. "Nunca senti que as pessoas que vão aos meus serviços se sentissem melindradas por estarem a ser atendidas por uma pessoa cega". Salientou também o facto de as novas tecnologias estarem a auxiliar imenso o trabalho das pessoas com estas limitações. "Os scanners e os leitores de ecrã que me permitem ter acesso a textos e legislação têm ajudado imenso o meu trabalho", salientou a jovem, que já esteve na Lousã integrada em outro grupo, em cuja visita se apercebeu da preocupação existente neste concelho quanto à eliminação de barreiras para as pessoas com deficiência.
Fonte: Jornal TrevimCom o apoio: Câmara Municipal da Lousã e da Provedoria Municipal das Pessoas com Incapacidade da Lousã
No comments:
Post a Comment